Vencendo a dislexia 1

Quando tinha uns 10 anos fui diagnosticado com dislexia leve, porém pronunciada em pequenas e perturbadoras ocorrências. De um tempo para cá, decidi estudar mais sobre o assunto e até dar um “fight back” neste problema. Espero ajudar alguém com esta questão.

Comecei a realizar pequenas tarefas no intuito de melhorar em alguns aspectos como a escrita e o foco (este blog é uma das atividades). Vale lembrar que a falta de informação dos parentes e educadores é o maior problema, quando não conseguimos demonstrar um desenvolvimento adequado. Muitas punições e reforços negativos podem advir da desinformação de quem está perto da gente.

Alguns pensam que é safadeza, burrice, falta de zelo ou simples falta de interesse. Só que não!

Quando você fracassa demais e recebe punições, o desinteresse ou a falta de ânimo podem se tornar uma realidade.

Primeiramente, como reconheci a dislexia?

  • Até os 8 anos eu escrevia espelhado sem querer (creepy);
  • Usava a mão que não era minha preferida (esquerda) para escrever e só percebia bem depois (tem uma alta incidência de disléxicos
    ambidestros);
  • Aprendi o que era esquerda e direita tardiamente;
  • O 3 e o E eram desafios mentais, eu realmente não lembrava se estava escrevendo espelhado ou não;
  • Tinha ortografia lastimável embora nunca tivesse tido problema com vocabulário. Não adianta ler e corrigir 100 vezes, sempre vai ter alguma letra suprimida, excedente ou trocada;
  • Ler algo só se fosse do meu profundo interesse, de preferência com imagens;
  • Falta de FOCO;
  • Responder a uma pessoa mentalmente e achar que ela ouviu;
  • Acertar toda uma questão de matemática e escrever o resultado errado;
  • Acertar as questões mais difíceis e errar as mais fáceis de uma prova;
  • Querer escrever “o Céu é azul”, ver uma maçaneta e acabar escrevendo “A maçaneta é azul”;
  • Rotina e atividades repetitivas podem ser terríveis.

Olhando o passado vi que algumas questões foram resolvidas, mesmo sabendo que a dislexia não tem cura, entendo que nosso cérebro é capaz de fornecer alternativas para novos caminhos. Ai entra a parte que depende de nós, amáveis disléxicos.

Superpoderes disléxicos

Temos uma plêiade de representantes, entre eles: Einstein, Leonardo da Vinci, Thomas Alva Edison, Tom Cruise, George W. Bush, Fernanda Young e tantos outros. Assim sendo, não estamos mal acompanhados. Segue uma lista com características observáveis em criaturas disléxicas.

  • Temos uma criatividade maluca/persistente/rápida/vidente;
  • Somos técnicos;
  • Somos amigáveis;
  • Temos comunicação inusitada e criativa;
  • Somos gustativos;
  • Somos ruidosos (eu não);
  • Somos altamente visuais;
  • Somos altamente gestuais;
  • Somos viscerais, precisamos de contato;
  • Somos leitores de pessoas (sensibilidade);
  • Abusamos de meios multissensoriais para nos expressar (yep, somos multimídia);
  • Inventamos palavras;
  • Não nos enquadramos em limites previamente definidos.

Lembro muito bem de levar diversos bilhetes para casa com um convite para os meus pais. Para os professores, eu estava com algum problema familiar, mas na verdade não havia problema algum. Eu só queria fazer os exercícios que me dessem na telha. Simplesmente criava minhas próprias questões e respondia. Lembro da professora me dando um carão tenebroso ao ver que metade do caderno cardemo tinha assuntos que não faziam parte do conteúdo. Eu estava com vontade de ver o capítulo que seria visto na unidade seguinte e pronto.

O que pode ajudar?

Aqui vão algumas coisas que me ajudaram a abrandar estas questões. Lembrando que nem tudo é aplicável, principalmente em casos de dislexia hardcore. É essencial recorrer a profissionais experientes para abordar cada caso com propriedade.

Paciência (falta muitas vezes)

A pressão que sofremos e a auto cobrança só pioram as coisas. Não adianta. Ame seu dislexiquinho interior e exterior caso seja parente, educando ou colega. No entanto, não jogue toda a culpa de seus fracassos sobre a dislexia…

Leitura e escrita

A maior dificuldade é vencer os reforços negativos. Quando dizem muito que você não presta para fazer algo e você acredita, o trauma é certo. Neste caso a escrita e leitura passam a ser suas últimas atividades em um dia. Não tenha vergonha de errar, é o seu blog é o seu diário (foda-se se está errado). Escreva de caneta e destaque o erro, não apague.

  • Faça um diário e/ou um blog;
  • Resuma suas leituras;
  • Anotes frases em um caderno;
  • Anote ideias, tire elas da sua cabeça;
  • Que tal desenhar letras?;
  • Tente escrever formalmente em meios digitais (redes sociais e whatsapp).

Destaque para desenhar letras: Faça letreiros bonitos com frases curtas, desenhando cada letra. Tive a sorte de exercitar isso no curso de design, embora o curso de design não fosse tão legal por priorizar o visual em detrimento do textual.

Xadrez

Tive a sorte de ter o Xadrez como matéria obrigatória no colégio e eu gostava. Foi um ponto de virada em muitos aspectos. Existem uma série de problemas e desafios no Xadrez que ajudam a desenvolver o foco.

Desenvolvimento do foco pela meditação

Medite, apena isso. Repousar com atenção na respiração é sensacional para combater a ansiedade e melhora muito o foco. Atenção plena!

Dormir e comer bem

A criatividade e a necessidade de quebrar padrões faz o sono noturno ser uma bobagem gigante. Principalmente diante da possibilidade de imaginar como deve ser uma visita ao planeta marte durante uma tempestade de meteoros. Quando se pensa em megafauna, seres abissais nem se fala…

Ayurveda Yoga

A medicina védica pode ajudar a tratar do comportamento disléxico com alimentação específica, massagem e meditação. A dislexia é uma manifestação típica de seres vata (de ar). Estes se caracterizam por ter uma mente aérea, muita energia para iniciar e pouca energia para terminar. Pouca afeição à rotina, constituição magra (na maioria das vezes), entre outras características.

Nutrição probiótica

Diversos estudos indicam que uma microbiota intestinal saudável ajuda a diminuir ansiedade e outros distúrbios comportamentais. Além disso, o aumento notável de crianças com déficit de atenção e dislexia manifestas pode ser uma falha nutricional.

Estude outro idioma

Ajuda e muito a treinar a inteligência verbal e capacidade de comunicação, além de ser um ótimo requisito curricular. Não tem motivos para não se dedicar a isso.

Linguagens de programação

A lógica de programação é um excelente modo de desenvolver o foco. Tive uma melhora fantástica na atenção desde que comecei a programar.

Conclusão

Somos seres em construção, devemos seguir aproveitando os superpoderes disléxicos sem esquecer que podemos melhorar a cada dia em questões que não nos deixam felizes. O importante é apreciar o que cada momento pode nos trazer.

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